domingo, 18 de abril de 2010

Quanto vale o show?

por PAULO VINICIUS COELHO

Retirado do Uol.

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O show santista vale muito, mas alguém pode, na maior cara de pau, plagiar Aracy de Almeida e oferecer "dez paus"
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O SANTOS TEM apenas 35% dos direitos sobre o centroavante André, que negociou aumento salarial no início desta semana. Como 65% pertencem ao Sonda e à Cabofriense, a resposta do presidente Luis Alvaro para renegociar o salário foi direta: "Pago o equivalente aos meus 35%. E cada sócio arca com sua porcentagem."
O presidente santista recebeu de herança uma geração de craques e uma legião de sócios. Não é fácil investir na formação de jogadores, mas a receita do presidente anterior, Marcelo Teixeira, resulta em discussões intermináveis na Vila Belmiro.
Fazer sociedades com investidores, empresários, com outros clubes ou com pais de craques tem seu preço. Permitiu montar um time que tem tudo para se classificar para a decisão do Paulista. Mas aumentou a chance de os sócios quererem desmanchar essa equipe rapidamente.
Obriga também a descobrir, dia a dia, as peculiaridades de cada acordo. Por tudo isso, está nos jornais a recusa do Conselho Deliberativo em aprovar as contas de Teixeira e está nascendo na Vila Belmiro uma comissão de inquérito para apurar o que houve de certo ou errado na forma de atuar do ex-presidente.
Entre os acertos, um é especial: a permanência de Neymar. Já há quem faça até a precoce comparação com Messi. Messi foi procurado pelo Barcelona aos 13 anos e Neymar, pelo Real Madrid aos 14. Messi decidiu ir, Neymar preferiu ficar. O Newell's revelou o argentino e ficou a ver navios. O Santos descobriu Neymar e ficou com 60% de seu contrato -40% pertencem ao pai dele.
No intervalo da goleada sobre o Guarani, na quarta-feira, o presidente disse "não" a uma sondagem do Real Madrid. Se a oferta se confirmasse na casa dos 30 milhões, como se especulou, o Santos ficaria com 18 milhões. Melhor ficar com seus 19 gols em 2010.
"Sorte que nossa relação com o pai dele é ótima", comenta Luis Alvaro. Significa que o pai não cresce o olho a cada sondagem.
Nem todos os sócios são assim. O Santos de hoje reclama especialmente do acordo com o Sonda, que pôde escolher livremente atletas de uma cesta. Um deles foi o atacante Alemão, que discutiu seu contrato na Justiça, meses depois, e migrou para a Udinese, da Itália.
Não pense que o Sonda saiu perdendo. O acordo permitia, no rompimento, ficar com outro jogador da mesma cesta. E assim se foi o contrato de Alan Patrick.
O Sonda também tem também 45% do contrato de Paulo Henrique Ganso. Tudo isso faz do Santos um time extremamente feliz com sua máquina de fazer gols. Já são 90 tentos em 26 partidas, incluídos aí os amistosos contra Red Bull e seleção sul-africana. Feliz na bola, infeliz com o modelo de negócio.
O sonho atual é manter o time espetacular por muito tempo, mas com mais controle sobre os jogadores que o clube forma.
Em outras palavras, é fugir da relação que lembra o antigo programa de calouros em que o apresentador Silvio Santos tinha sempre a mesma pergunta para a rainha do mau humor, Aracy de Almeida: "Quanto vale o show?". O show santista vale muito, mas alguém pode, na maior cara de pau, plagiar Aracy: "Dá dez mangos pra ele!".

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