quinta-feira, 9 de abril de 2009

CADASTRO OU FICHAMENTO DE TORCEDOR?




Caros amigos Internautas,


Estava em visita ao site http://www.observatoriodoesporte.org.br/, formado por um grupo de pesquisadores de notorias contribuições ao campo da Educação Física, Políticas Publicas de Esporte e Lazer e resolvi socializar a leitura sobre o tema polêmico de cadastro de torcedores proposto pelo Ministro dp Esporte, Sr. Orlando Silva. Espero ter acertado na indicação!
Cadastro de torcedores não é a solução
São Paulo, 25 de março de 2009TENDÊNCIAS/DEBATES
O cadastro de torcedores tende a criminalizar os espectadores e transmite mensagem estigmatizante: esses sujeitos são perigosos.

O GOVERNO brasileiro anunciou recentemente, por meio do ministro do Esporte, Orlando Silva, a alteração do Estatuto do Torcedor. Os pontos centrais são três novas medidas:
a exigência de certos laudos de segurança para liberar o uso dos estádios; uma tipificação legal de crimes esportivos; e um cadastro nacional de torcedores. Essas alterações visam garantir um maior nível de segurança nos estádios do Brasil.

A maioria dessas medidas coloca o torcedor como um perigo potencial, que deve ser dominado, em vez de entender um evento de massa como uma ocasião de insegurança, na qual esse espectador deve ser protegido. O cadastro nacional de torcedores tende a criminalizar os espectadores, da mesma maneira como os Jecrims nos estádios (Juizado Especial Criminal), as grades, a vigilância eos circuitos de vídeo.
Essas medidas transmitem uma mensagem estigmatizante:esses sujeitos que vão aos estádios são perigosos. Além disso, o cadastro de torcedores invade a privacidade dos indivíduos. Por causa de alguns poucos violentos, todos os espectadores devem sofrer tal exposição?

Enquanto isso, o problema, penso, é outro. Eventos de massa -não só eventos esportivos, mas também de música e religiosos, entre outros- são situações de insegurança latente e requerem medidas especiais.
A primeira e mais importante refere-se à arquitetura do local, que deve ser segura, limpa e capaz de acomodar o fluxo das multidões que se formam. Como os incidentes da Fonte Nova (Bahia) e outros mais recentes em São Paulo demonstraram, isso ainda não é assegurado no Brasil.

A segunda medida necessária é um corpo de agentes de segurança qualificados e treinados para a configuração que os grandes eventos apresentam. Com o Gepe (Grupo Especial de Policiamento em Estádios), no Rio de Janeiro, já se tem boas experiências. Mas seria ainda melhor ter agentes civis, em vez de policiais, para diminuir os sinais agressivos ao público. Finalmente, é necessária uma entidade nacional, com pontos de atendimento locais, dotados de assistentes sociais profissionais, que crie um elo entre torcedores e instituições como governo, polícia, federações de esporte e clubes.

Essa entidade deveria atender as necessidades de torcedores, divulgar o conteúdo do Estatuto do Torcedor, que é plenamente desconhecido, e garantir um melhor fluxo de informações aos presentes. A ausência dessa entidade é, a meu ver, a grande lacuna do Estatuto do Torcedor.

Como já disse o major Marcelo Pessoa, ex-comandante do Gepe, é necessário tratar os torcedores com dignidade, pois são cidadãos, também consumidores, e não criminosos que devem ser fichados). Experiências na Europa mostram que o cadastro leva a uma pulverização das torcidas e as torna ainda menos controláveis. Melhor é um atendimento que reconheça as suas necessidades.

Por isso a maioria dos países europeus não faz uso de um cadastro nacional e nem este é uma exigência da Fifa, como declarado pelo Ministério do Esporte. É apenas, em vista da experiência europeia, uma medida perdulária e inútil.

Além disso, é preciso ter cuidado para não destruir a rica cultura dos torcedores brasileiros, que transformam os jogos, com suas canções e bandeiras, naqueles espetáculos coloridos e emocionantes aos quais fomos acostumados. Na Inglaterra, onde não há mais torcidas organizadas e todos são obrigados a assistir aos jogos sentados, o relato mais comum é de que não há mais a bela “atmosfera” do futebol, apenas um espetáculo mercantilizado e pasteurizado do ponto de vista dos ditos “torcedores”.

Esse não me parece um bom exemplo a ser seguido. Corremos, assim, o risco de produzir os mesmos “estádios-caixões” ingleses, a prosseguir a atual escalada de regularizações, proibições e sistemas de vigilância, em detrimento da democratização do espetáculo es portivo e da oferta das informações fundamentais para que os eventos evoluam de forma segura.

MARTIN CURI é mestre em sociologia pela Universidade de Hagen (Alemanha) e pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Esporte e Sociedade da UFF (Universidade Federal Fluminense), em Niterói, RJ.
E aí, gostaram? entrem no debate a vontade. Abraços e...

Até mais!

7 comentários:

  1. Gostei, principalmente porque constatei meu desconhecimento do Estatuto do Torcedor. Eu sou totalmente ignorante do conteúdo do mesmo.
    Em relação ao cadastramento, fiz a seguinte leitura: o governo brasileiro age como o marido traído que resolve a traição, vendendo o sofá onde foi praticado o adultério, ou seja, camufla a realidade e não resolve vsrdadeiramente o problema. Concordo com Martin.
    ANÔNIMA

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  2. Isso seria um investimento aultissímo, e o governo deveria pensar em outras formas de resolver o problema da violência nos estádios,mesmo porque o tocedor tem o direito de manter sua privacidade e isso seria uma invasão muito brusca!!!
    Sou a favor de um policiamento, totalmente treinado e reciclados, para que nós torcedores tenhamos segurança,pois não é o que vemos, no entanto vemos "policiais" totalmente despreparados!!Que nos transmitem isegurança!


    Anônima 2

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  3. A violência no estádios de futebol é uma expressão a mais da violência que presenciamos hoje nos diferentes espaços do nosso cotidiano.
    Chegamos ao fundo do poço. Até mesmo o espaço de sociabilização do conhecimento acumulado pela humanidade, a escola, é alvo de vários tipos de violência. Desde aquela menos visível, perpetuada pelos sistemas de avaliação, até aquela, mais visível, como ataques de morte de colegas, uns contra os outros. É a máxima hobbesiana elevada a enésima potência.
    Os alunos têm que ser revistados antes de entrarem nas escolas, os torcedores idem, antes de entrarem nos estádios. Policiamento ostensivo e intensivo nos estádios e nas escolas, entre outras coisas que se assemelham.
    As leis e os estatutos servem como atitude imediatas. No caso da violência das torcidas, pode até inibir no interior dos estádios, mas seus protagonistas irão escolher outros espaços de confronto, como já vem ocorrendo.
    A questão que se coloca é: o que faremos a médio e longo prazo. Respondo. Educação emancipadora, distribuição de renda, fortalecimento do setor público e respeito aos direitos individuais. É assim que entendo a "solução" do problema da violência, pois o mesmo não está localizado apenas nos estádios de futebol, como podemos notar.

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  4. Concordo com você Welington, quando você diz que a educação é a "solução" do problema da violência!!
    Mas fico triste quando vejo incidentes, tipo do que aconteceu no jogo hoje do Bahia com o Madre de Deus, é a prova de que precisamos de policiais treinados, não só nos estádios mas nas ruas também, afinal é eles que nos dão seguranças!!
    Educaçaõ é a solução de muitos problemas do nosso país!!

    Anônima 2

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  5. Não emitir uma opinião quando da publicação da materia justamente por ter tido a intenção do debate apartir da própria materia. Agora, engrosso o debate dizendo que é muito importante a discussão sobre as questões que dizem respeito à vida coletiva de um país. A vilencia como assistimos todos os dias é fruto de relações de interesses e poder de pessoas e/ou grupos que defndem pontos de vistas completamente diferente e elegem para isso suas prioriddes. A idéia de carteirinha ao contrario como se pretende jogo no lixo a idéia de cidadania que defendo. Defendo ( e isso não nasceu comigo e nem foi eu quem inventou) a idéia de que a cidadania na qual o ser humano seja de fato respeitado, dispensa documentos. Como seria bom andarmos nas ruas sem a preocupação com documentos d eidentidade, sobretudo os perifericos que na maioria das situações tem furtado seus documentos logo após o delito cometido, seja pelo poder paralelo, seja pela lei. É papagaiada de quem quer aparecer na fita e não reslver a questão. Por falar em resolver a questão, faço coro as palavras do Welington e do anonimo, no caso especifico da violencia é um olho no peixe e outro no gato. Policia competente e bem preparada e Educação e ações em niveis micro e macro de emancipação social. Para terminar, o que mais uma vez aconteceu em madre de Deus hoje, é sintese do despreparo que ainda temos em comviver em/na democracia. Do meu ponot de vista os comendantes devem ser responsabilizados e responder por seus comandados, até porque na hierarquia militar não são os desejos particulares dos soldados que ecoam e sim as ordens de seus comendantes. Enquanto encobrimos más gestões, sofremos com os cacetetes e gases de pimenta nos olhos.

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  6. Esqueci de me identificar, sou o autor do ultimo comentario. Abraços

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  7. Concordo com Welington que a questão da violência envolve uma série de questões como a desigualdade social, desrespeito aos direitos humanos,etc. Mas quero dizer que ele foi "feliz" ao pontuar a questão da violência na escola e a violência da escola. Infelizmente, como Welington disse, até mesmo esse espaço é alvo de vários tipos de violência ( o que está se tornando cada vez mais rotineiro ). Porém, a escola não é um lugar só de menifestação de violência, mas também um espaço que pode produzir violência. Isso está explícito na fala: "Aqui, dentro da escola, você não pode agredir seu colega. Se quiser brigar, vai brigar na
    rua". Traduzindo: "Lá fora você pode ser violento". A escola não problematiza a questão da violência. Não faz mediação de conflitos, ou seja, não propõe a resolução não-violenta dos conflitos. Óbvio que ela não vai resolver a questão da violência, mas tem que ser um espaço de debate, de criar uma nova cultura de paz e não de guerra...
    ANÔNIMA
    Bira, quando falei que gostei, estava me referindo ao artigo que você postou. Entendeu? Abraços

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